sexta-feira, 29 de março de 2019

Capitalismo parasitário [Livro]


Capitalismo parasitário do sociólogo Zygmunt Bauman, publicado em 2010 pela editora Zahar, é dividido em cinco capítulos.
O primeiro capítulo, que é homônimo ao título do livro, trata da imperfeição do sistema capitalista, este, de acordo com Bauman, se destacando por criar problemas e não por solucioná-los. Por essa questão, o autor é enfático ao afirmar que o capitalismo é um sistema parasitário, buscando sempre novos recursos e novas formas de obtenção de lucro, porém, assim como um parasita, não mata seu hospedeiro, mas permite que ele permaneça vivo e desse modo lhe garantindo sobrevivência. Um dos exemplos citados é a questão dos empréstimos, ao invés de querer reaver seu dinheiro de maneira rápida, os emprestadores se fazem de “benevolentes” e aumentam os prazos de pagamento, para que quem emprestou possa pagar suas dívidas. O que não é citado nessa história são os juros altíssimos. Segundo o autor, o “’devedor ideal’ é aquele que jamais paga integralmente suas dívidas”.
Um conceito amplamente desenvolvido por Bauman é a de mundo líquido, onde a solidez das coisas, como as relações humanas, a moda, é uma ameaça. Essa ideia é interessante para o entendimento deste livro, pois na fase líquida da modernidade, o Estado é “capitalista” quando garante a disponibilidade contínua de crédito e a habilitação contínua dos consumidores para obtê-lo”
Em “A Cultura da Oferta”, segundo capítulo do livro, Bauman volta com a ideia de modernidade líquida aplicada à cultura, onde esta é “feita na medida da liberdade de escolha individual (voluntária ou imposta como obrigação)”. A cultura, hoje, é feita de ofertas e não de normas. O autor cita Pierre Bourdieu que diz que “a cultura vive de sedução, não de regulamentação; de relações públicas, não de controle”. O excesso de oferta, clientes a seduzir, criar necessidades para as pessoas sem que essas tenham tal necessidade são todas questões abordadas por essa cultura da oferta. E quais as consequências desse excesso de oferta? O consumismo. As pessoas se veem condenadas a uma forma de felicidade que só ocorre quando se compra, trazendo para si uma satisfação mesmo que temporária. É quase um vício. É, nas palavras do autor “um gozo descartável”.
Em uma outra abordagem da nossa cultura e das relações humanas o autor aborda a educação e a crise pela qual a mesma está passando atualmente. Assim como as relações são líquidas, nas quais as pessoas deixam de se relacionar de maneira muito rápida, o ensino também é assim. Prioriza-se aquele conhecimento que se “aprende”, mas que logo pode ser descartado. Na sociedade sólida o que importava era a memória, essa hoje não é tão importante assim, quase inútil, pois o conteúdo pode ser facilmente encontrado, por exemplo, na internet.
O autor ainda afirma que a atual cultura humana está centrada no desperdício, uma vez que os produtos se tornam rapidamente obsoletos, fazendo com que novos produtos passam a ser desejados pelos consumidores, assim aquele antigo produto ou aparelho não tem mais serventia não pelo fato de ter parado de funcionar ou por ter estragado, mas por que existe outro “mais moderno”. Esse desejo pelo novo também é entendido como felicidade, assim só é feliz quem consome, voltando à máxima de que sim “dinheiro traz felicidade”.
Os empregados do mundo sólido e do mundo líquido também têm suas diferenças analisadas por Bauman. Aqueles do mundo sólido apenas seguiam as regras de seus patrões, não precisavam ter características que os tornassem distintos dos demais, o serviço desempenhado era rígido, controlado. Totalmente diferente daqueles empregados do mundo líquido que já são mais flexíveis, com características ligadas à sua personalidade, possuem características que visam destacá-los dos demais, além disso devem buscar conhecimento novo em cursos ou com professores que ofereçam novas concepções e ideias. Isso é corroborado por uma época em que uma das palavras que mais se houve na internet é “coaching”.
“A Sociedade do medo” é o terceiro capítulo da ora, tratando dos medos (ou insegurança), que a ação da nova sociedade líquida, causam. A insegurança e o medo devem ser estimulados, político e comercialmente, pois a partir dessa situação a população passa a consumir mais ou a acreditar mais no governo. Outros danos advêm da perda da autoestima das pessoas, e isso é resultado dos sujeitos que passam a ser cada vez mais individualistas.
O quarto capítulo, intitulado “O corpo em Contradições”, aborda as respostas provindas do nosso corpo por conta do modo de vida da sociedade, como por exemplo a bulimia e a anorexia, tais patologias tem como a principal causa a dificuldade de as pessoas encontrarem soluções para suas dúvidas.
Finalizando o livro temos “Um homem com esperanças”, aqui Bauman aborda a dificuldade que tem em se caracterizar como um pessimista ou otimista, pois pensa não ser nenhum dos dois. Ele se coloca como um homem que tem esperança, alguém que acredita que as futuras escolhas e decisões da sociedade sejam boas e objetivam criar um mundo melhor para todos.
O livro como um todo é muito importante para abrir os olhos diante de uma sociedade cheia de conflitos e de problemas, os quais provêm do capitalismo, algo que para muitos não tem qualquer relação com o modo de vida de uma sociedade é tratado pelo autor como algo que traz os problemas e não os soluciona.

BAUMAN, Z. Capitalismo parasitário e outros temas contemporâneos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.

Por Luciane Corrêa

terça-feira, 26 de março de 2019

Espécie de cobra descoberta dentro de outra cobra


Uma equipe de Herpetólogos da Universidade do Texas em Arlington descreveram uma espécie de cobra encontrada dentro do estômago de outra cobra há mais de quatro décadas!
A descoberta foi divulgada no periódico Journal of Herpetology em dezembro de 2018. A cobra foi nomeada como Cenaspis aenigma, que significa “misterioso jantar de cobra”. Nesse trabalho os pesquisadores não descreveram apenas uma espécie, mas fizeram a proposição de um gênero novo para alocar tal táxon, uma vez que apresenta várias características distintivas de qualquer outro gênero da família Columbridae (a maior família de cobras conhecida).
A espécie Cenaspis aenigma foi encontrada e descrita a partir de um indivíduo coletado no interior do estômago de uma cobra coral da América Central que tem como hábito alimentar o consumo de pequenas serpentes.
                 O detalhe e a grande curiosidade é que essa amostragem havia sido feita há 40 anos atrás e ficou preservada na coleção do museu até seu estudo e descrição. Desde a amostragem até hoje não foi encontrado nenhum exemplar vivo, porém os pesquisadores apresentam em seu trabalho evidências que indicam que a espécie pode ainda ser vivente.
O estudo ainda nos mostra como a diversidade é tamanha de tal modo que até hoje é possível descrever novas espécies de todo o tipo de organismo, independente do táxon, por exemplo, até mesmo cobras são encontradas revelando que existe toda uma fauna espalhada pelo mundo à espera de ser descrita.

FONTE:
Jonathan A. Campbell et al, Caudals and Calyces: The Curious Case of a Consumed Chiapan Colubroid, Journal of Herpetology (2018). DOI: 10.1670/18-042

sexta-feira, 22 de março de 2019

A Terra não é redonda


Não, não é nada relacionado à teoria da Terra Plana. A questão é que a Terra não é “realmente” ou “perfeitamente” redonda.
De acordo com o ESRI, a Terra apresenta uma circunferência maior ao nível do equador do que a nível dos pólos, isso significa que ela é mais “larga” que “alta”. Quase como se fosse uma bola de futebol americano, a grosso modo é claro.
Porém, além dessa forma peculiar ela apresenta diferenças em vários locais por conta da sua geografia. Existem locais do planeta em que montanhas se elevam muito enquanto outras regiões contem abismos escondidos por conta da água que os recobrem.
A essa forma “torta” e variável da Terra é dado o nome de geoide.
Assim, seria correto afirmar que a Terra não é perfeitamente ou completamente redonda. Obviamente que isso depende de como observamos o planeta. Do espaço ela continua como sempre foi na nossa percepção moderna e científica de mundo: arredondada.
            Quanto aos Terraplanistas eu pergunto: Por que alguém ainda não caiu da borda?
            Dúvidas, críticas e sugestões: lourivaldias@gmail.com
            Até!

FONTE:

terça-feira, 19 de março de 2019

Sapo do Inferno


Imagine um sapo com uma mordida de mesma potência a de um pit bull, imagine esse mesmo sapo gigante, não grande a ponto de ser maior que um ser humano, mas por apresentar dimensões maiores do que os sapos atuais, digamos do tamanho de um cachorro de pequeno porte. Agora pense nesse animal comendo dinossauros.
Imaginou? Bizarro né? Então, ele já existiu.
Trata-se do “Sapo do Inferno” (Beelzebufo ampinga), um anfíio que viveu na região em que hoje é Madagascar há 65-70 milhões de anos atrás, no final do Cretáceo.
A mandíbula de Beelzebufo ampinga era tão potente quanto a de um lobo (com uma força de mordida de até 2200 N, aproximadamente 200 kg), tornando possível se alimentar de pequenos dinossauros, além de alcançar 41 cm de altura e atingir 4,5 kg.
Atualmente, desde sua descrição em 2008, é considerado o maior sapo que já existiu.
Uma questão importante do ponto de vista da biogeografia é levantada quando se analisa o porquê desses animais do gênero Beelzebufo estarem tão distantes de seus parentes da América do Sul, os sapos do gênero Ceratophrys (os “Sapos Pac-man”) que também apresentam uma boca muito grande.
Certo. Sabe-se que a África e América do Sul tinham uma ligação entre si, porém estes dois continentes se separaram a 84 milhões de anos, enquanto Madagascar se separou da África há 160 milhões de anos.
A explicação para isso está em uma hipótese de que a América do Sul, Madagascar e talvez a Antártida estiveram ligados por uma conexão terrestre justamente entre 65 e 70 milhões de anos atrás.
Espero que tenham gostado de saber mais sobre essa intrigante espécie.
Dúvidas, críticas e sugestões: lourivaldias@gmail.com

FONTES:
Evans, S. E., Jones, M. E. H. & Krause, D. W. A giant frog with South American affinities in the Late Cretaceous of Madagascar. Proc Nat Acad Sci 105, 2951–2956 (2008).
Evans, S. E., Groenke, J. R., Jones, M. E. H., Turner, A. H. & Krause, D. W. New material of Beelzebufo, a hyperossified frog (Amphibia: Anura) from the Late Cretaceous of Madagascar. PLoS ONE 9(1), e87236 (2014).