Capitalismo parasitário do sociólogo
Zygmunt Bauman, publicado em 2010 pela editora Zahar, é dividido em cinco
capítulos.
O primeiro capítulo, que é homônimo ao
título do livro, trata da imperfeição do sistema capitalista, este, de acordo
com Bauman, se destacando por criar problemas e não por solucioná-los. Por essa
questão, o autor é enfático ao afirmar que o capitalismo é um sistema
parasitário, buscando sempre novos recursos e novas formas de obtenção de
lucro, porém, assim como um parasita, não mata seu hospedeiro, mas permite que
ele permaneça vivo e desse modo lhe garantindo sobrevivência. Um dos exemplos
citados é a questão dos empréstimos, ao invés de querer reaver seu dinheiro de
maneira rápida, os emprestadores se fazem de “benevolentes” e aumentam os
prazos de pagamento, para que quem emprestou possa pagar suas dívidas. O que
não é citado nessa história são os juros altíssimos. Segundo o autor, o
“’devedor ideal’ é aquele que jamais paga integralmente suas dívidas”.
Um conceito amplamente desenvolvido por
Bauman é a de mundo líquido, onde a solidez das coisas, como as relações
humanas, a moda, é uma ameaça. Essa ideia é interessante para o entendimento
deste livro, pois na fase líquida da modernidade, o Estado é “capitalista”
quando garante a disponibilidade contínua de crédito e a habilitação contínua
dos consumidores para obtê-lo”
Em “A Cultura da Oferta”, segundo capítulo
do livro, Bauman volta com a ideia de modernidade líquida aplicada à cultura,
onde esta é “feita na medida da liberdade de escolha individual (voluntária ou
imposta como obrigação)”. A cultura, hoje, é feita de ofertas e não de normas.
O autor cita Pierre Bourdieu que diz que “a cultura vive de sedução, não de
regulamentação; de relações públicas, não de controle”. O excesso de oferta,
clientes a seduzir, criar necessidades para as pessoas sem que essas tenham tal
necessidade são todas questões abordadas por essa cultura da oferta. E quais as
consequências desse excesso de oferta? O consumismo. As pessoas se veem
condenadas a uma forma de felicidade que só ocorre quando se compra, trazendo
para si uma satisfação mesmo que temporária. É quase um vício. É, nas palavras
do autor “um gozo descartável”.
Em uma outra abordagem da nossa cultura e
das relações humanas o autor aborda a educação e a crise pela qual a mesma está
passando atualmente. Assim como as relações são líquidas, nas quais as pessoas
deixam de se relacionar de maneira muito rápida, o ensino também é assim.
Prioriza-se aquele conhecimento que se “aprende”, mas que logo pode ser
descartado. Na sociedade sólida o que importava era a memória, essa hoje não é
tão importante assim, quase inútil, pois o conteúdo pode ser facilmente
encontrado, por exemplo, na internet.
O autor ainda afirma que a atual cultura
humana está centrada no desperdício, uma vez que os produtos se tornam
rapidamente obsoletos, fazendo com que novos produtos passam a ser desejados
pelos consumidores, assim aquele antigo produto ou aparelho não tem mais
serventia não pelo fato de ter parado de funcionar ou por ter estragado, mas
por que existe outro “mais moderno”. Esse desejo pelo novo também é entendido
como felicidade, assim só é feliz quem consome, voltando à máxima de que sim
“dinheiro traz felicidade”.
Os empregados do mundo sólido e do mundo
líquido também têm suas diferenças analisadas por Bauman. Aqueles do mundo
sólido apenas seguiam as regras de seus patrões, não precisavam ter
características que os tornassem distintos dos demais, o serviço desempenhado
era rígido, controlado. Totalmente diferente daqueles empregados do mundo
líquido que já são mais flexíveis, com características ligadas à sua
personalidade, possuem características que visam destacá-los dos demais, além
disso devem buscar conhecimento novo em cursos ou com professores que ofereçam
novas concepções e ideias. Isso é corroborado por uma época em que uma das
palavras que mais se houve na internet é “coaching”.
“A Sociedade do medo” é o terceiro
capítulo da ora, tratando dos medos (ou insegurança), que a ação da nova
sociedade líquida, causam. A insegurança e o medo devem ser estimulados,
político e comercialmente, pois a partir dessa situação a população passa a
consumir mais ou a acreditar mais no governo. Outros danos advêm da perda da
autoestima das pessoas, e isso é resultado dos sujeitos que passam a ser cada
vez mais individualistas.
O quarto capítulo, intitulado “O corpo em Contradições”,
aborda as respostas provindas do nosso corpo por conta do modo de vida da
sociedade, como por exemplo a bulimia e a anorexia, tais patologias tem como a
principal causa a dificuldade de as pessoas encontrarem soluções para suas
dúvidas.
Finalizando o livro temos “Um homem com
esperanças”, aqui Bauman aborda a dificuldade que tem em se caracterizar como
um pessimista ou otimista, pois pensa não ser nenhum dos dois. Ele se coloca
como um homem que tem esperança, alguém que acredita que as futuras escolhas e
decisões da sociedade sejam boas e objetivam criar um mundo melhor para todos.
O livro como um todo é muito importante
para abrir os olhos diante de uma sociedade cheia de conflitos e de problemas,
os quais provêm do capitalismo, algo que para muitos não tem qualquer relação
com o modo de vida de uma sociedade é tratado pelo autor como algo que traz os
problemas e não os soluciona.
BAUMAN, Z. Capitalismo parasitário e outros temas contemporâneos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
Por Luciane Corrêa
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