A origem do Natal é recheada de elementos
cristãos e pagãos (para os cristãos, obviamente).
Foi somente no século IV em que a data de
25 de dezembro foi estabelecida como o nascimento de Jesus. De onde vem essa
data? Foi por conta do historiador cristão Sextus Julius Africanus que a
definiu em 221 d. C. Originalmente esse era o dia da comemoração do nascimento
do deus persa Mitra. Passou o tempo, no século IV d. C. Roma passa a ter o
cristianismo como religião oficial e aceitou a data indicada por Africanus. O
Festival do Sol Invicto trocou de homenageado, agora seria o filho do deus
único.
Deus Sol Invicto |
Alguns foram contra essa comemoração. Em
245 d. C. o teólogo Orígenes repudiou o festejar do nascimento de Jesus “como
se fosse um Faraó”, na época não era costume comemorar o nascimento das
pessoas.
Mas como tudo começou? Há cerca de 7.000
anos a. C. o solstício de inverno no Hesmisfério Norte, a noite mais longa do
ano, era comemorado, pois após esse momento os dias começariam a ficar mais
longos, o sol tinha a vitória sobre a escuridão. Vamos todos comemorar!
Segundo Richard Cohen, historiador e autor
do livro Persiguiendo el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida (Perseguindo
o sol: a história épica do astro que nos dá a vida), “praticamente todas as
culturas têm uma forma de celebrar esse momento”.
O Solstício de Inverno era celebrado:
a) na
Grécia, em homenagem ao deus Dionísio;
Deus Dionísio |
b) no Egito a Osíris;
Deus Osíris |
c) na China o culto era
em relação ao Yin-Yang;
O Yin-Yang |
d) e os povos antigos da Grã-Bretânia comemoravam a época
em torno de Stonehenge, que fora construído para demarcar o percurso que o sol
fazia ao longo do ano.
Stonehenge |
Na Roma antiga era comemorado nessa época
do ano a Saturnália, em homenagem ao deus Saturno da agricultura, haviam trocas
de papéis sociais e de presentes, algo como o carnaval e o natal moderno. Uma
grande festança acontecia comemorando a época do ano que significava fartura.
Saturnália, um evento família. |
Constantino |
O imperador Constantino (falarei dele em
um outro post futuramente), governou o Império Romano entre os anos 306 e 337
d. C., juntou vários deuses que adoravam o sol em um só, o Deus Sol Invicto,
nessa junção estavam o deus persa Mitra, o deus egípcio Órus e o deus grego
Apolo. O grande festival em homenagem ao sol passou a se chamar Grande Festa
Solar ou Festival do Deus Sol Invicto. O professor da cátedra de História
Antiga da Universidade de Cantábria na Espanha, Ramón Teja, indica ainda que
Constantino fusiona o culto solar ao culto cristão, possivelmente preocupado
com sua legitimidade de seu governo.
O culto a esses vários deuses chegou até
Roma por conta do imperialismo de seu Império. Por exemplo, o culto a Mitra
chegou na Europa no séc. IV a. C. quando Alexandre, o Grande, conquistou o
Oriente Médio.
Com Constantino os cristãos passaram a não
serem mais perseguidos (exceto algumas vertentes do cristianismo, que falarei
no post futuro do imperador), em 354 d. C. Papa Libério institui oficialmente o
Natal de Jesus, e conforme os seguidores de Cristo espalhavam sua religião pelo
mundo, outros costumes foram sendo adicionados à comemoração do nascimento de
Jesus.
Um dos símbolos do Yule |
O Yule, por exemplo, festa do solstício de
inverno dos nórdicos, que comemorava o momento em que Odin liderava a festa de
caça e montava Sleipnir, seu cavalo alado de 8 pernas (quantas renas Papai Noel
tem mesmo?), teve elementos incorporados às festividades natalinas como o
presunto da ceia, a decoração característica de inverno, as cores contrastantes
como verde e vermelho, a árvore de natal e um gnomo que distribuía presentes
(hum, já vi isso em algum lugar).
"Odin" e seu "Gnomo dos Presentes" |
Esse sincretismo religioso é a origem do
natal. A relação com o sol também pode ser vista na Bíblia, em textos como: “o
Sol da Justiça” (Malaquias 4:2) e “a luz do mundo” (João 8:12).
Jesus pode nem mesmo ter nascido no Natal,
por conta dessa época do ano ser o final do inverno, e na Bíblia há a indicação
da presença de pastores e rebanhos nos pastos da região. Outro ponto a ser
considerado é a data que não é citada na Bíblia. Além disso, o cálculo do ano
zero parece estar errado, uma vez que como Jesus nasceu ainda durante o reinado
de Herodes I, a data de seu nascimento pode ser antes do ano zero, alguns
argumentam que por volta de 6 a. C. ou depois, em torno de 4 a. C., que é o ano
da morte de Herodes, o Grande.
E de onde vem os outros símbolos, como
Papai Noel, as Botas, Velas e Árvores? Tudo tem uma origem, vamos a elas.
Nicolau de Myra |
Na cidade de Myra, na Turquia, no séc. IV,
haviam três moças muito pobres que estavam prestes a ir para a prostituição
para sobreviverem, porém um homem misterioso em várias noites seguidas, jogou
três sacos com ouro para dentro da casa delas, alguns dizem que ele os lançava
pela chaminé. Este ouro serviria para dotes de casamento de modo a dar uma vida
melhor para essas jovens. Esse homem seria revelado como o bispo Nicolau de
Myra que foi posteriormente canonizado pela igreja católica. Daí vem o símbolo
do Papai Noel. Na Grã-Bretânia é chamado de Father Christmas (Christmas viria
de Christ’s mass, ou “missa de Cristo”), na França seria conhecido como Pére
Nöel (de onde veio o nome para o português), na Holanda é conhecido como
Sinterklaas (que é de onde deriva o nome Santa Claus, pois foi o nome trazido pelos
migrantes holandeses que fundaram a colônia de Nova Amsterdã, atual Nova York).
O Papai Noel foi representado por vários
artistas em várias épocas. A roupa característica de frio foi mostrada pelo
cartunista Thomas Nast na Revista Harper’s Weeklys.
Noel por Nast |
Antes o bom velhinho era
representado por cores verde, roxo e azul. A Coca-Cola não foi a primeira a colocar
uma roupa vermelha, ele aparece pela primeira vez de vermelho pelas oras de
Louis Prang (1885), sua roupa vermelha só se popularizou em 1931, quando
Haddon Sundblom fez uma campanha publicitária para a marca de refrigerante.
Papai Noel com o que viria a ser sua roupa característica por Louis Prang |
Uma das várias campanhas publicitárias desenhadas por Haddon Sundblom |
Por ter vários elementos pagãos, o
Parlamento Inglês de maioria puritana, extinguiu o Natal em 1645, porém com a
restauração da monarquia a festa voltou a ser permitida em 1658.
A Árvore de Natal foi acrescida como
símbolo da festividade por Martinho Lutero, o pai da Reforma Protestante, no
séc. XVI, além da árvore em si passou a decorá-la com velas, uma prática que se
popularizou no séc. XVIII. Mas a própria festa de Yule já tinha como um dos
símbolos a árvore.
Martinho Lutero e sua família comemorando o Natal |
Carlos Magno |
A troca de presentes é citada em vários
momentos nesse imenso sincretismo. O menino Jesus recebe presentes dos Reis
Magos; o gnomo do Yule os distribui; Odin também os distribuía, como vou falar
no próximo parágrafo; na Saturnália havia esse hábito; os sacos de ouro de São
Nicolau (desculpem-me pela frase) também podem ser entendidos como presentes; e
o Imperador francês Charlemagne, nosso conhecido Carlos Magno, que foi coroado no dia de Natal, em 800 d. C.,
instituiu uma comemoração de 12 dias, bem como a troca de presentes entre
todos.
O símbolo da Bota veio da cultura nórdica,
onde as crianças enchiam de comida em botas penduradas, às vezes próximas da
chaminé, para que Sleipnir, o cavalo alado de Odin, pudesse comer. Como
recompensa o pai dos deuses nórdicos dava presentes.
Odin com Sleipnir |
O Presépio também é uma obra de um santo
da igreja católica. Foi São Francisco de Assis que construiu pela primeira vez
um presépio. Era uma representação com pessoas de verdade em uma gruta.
Estas são algumas informações que gostaria
de trazer para vocês de forma crítica, buscando fontes históricas que embasem
nossa concepção de mundo. O pensamento crítico, típico da ciência é deveras
importante para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Espero que tenham
gostado.
Enfim, aqui fica a minha mensagem de
grande fartura e esperança para todos. Que o verdadeiro homenageado possa
iluminar todos vocês, em tudo o que vierem a fazer, o Sol!
Rá, Deus do Sol |
Feliz Solstício de Inverno!
Até!
Críticas,
dúvidas e sugestões: lourivaldias@gmail.com
FONTES:
COHEN, R. 2012. Persiguiendo el Sol: La historia épica del
astro que nos da la vida. Turner. Madrid. 755 pp.
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