terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A história (não contada) do Natal


A origem do Natal é recheada de elementos cristãos e pagãos (para os cristãos, obviamente).
Foi somente no século IV em que a data de 25 de dezembro foi estabelecida como o nascimento de Jesus. De onde vem essa data? Foi por conta do historiador cristão Sextus Julius Africanus que a definiu em 221 d. C. Originalmente esse era o dia da comemoração do nascimento do deus persa Mitra. Passou o tempo, no século IV d. C. Roma passa a ter o cristianismo como religião oficial e aceitou a data indicada por Africanus. O Festival do Sol Invicto trocou de homenageado, agora seria o filho do deus único.
Deus Sol Invicto
Alguns foram contra essa comemoração. Em 245 d. C. o teólogo Orígenes repudiou o festejar do nascimento de Jesus “como se fosse um Faraó”, na época não era costume comemorar o nascimento das pessoas.
Mas como tudo começou? Há cerca de 7.000 anos a. C. o solstício de inverno no Hesmisfério Norte, a noite mais longa do ano, era comemorado, pois após esse momento os dias começariam a ficar mais longos, o sol tinha a vitória sobre a escuridão. Vamos todos comemorar!
Segundo Richard Cohen, historiador e autor do livro Persiguiendo el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida (Perseguindo o sol: a história épica do astro que nos dá a vida), “praticamente todas as culturas têm uma forma de celebrar esse momento”.
O Solstício de Inverno era celebrado: 
a) na Grécia, em homenagem ao deus Dionísio; 
Deus Dionísio
b) no Egito a Osíris; 
Deus Osíris
c) na China o culto era em relação ao Yin-Yang; 
O Yin-Yang

d) e os povos antigos da Grã-Bretânia comemoravam a época em torno de Stonehenge, que fora construído para demarcar o percurso que o sol fazia ao longo do ano.
Stonehenge


Na Roma antiga era comemorado nessa época do ano a Saturnália, em homenagem ao deus Saturno da agricultura, haviam trocas de papéis sociais e de presentes, algo como o carnaval e o natal moderno. Uma grande festança acontecia comemorando a época do ano que significava fartura.

Saturnália, um evento família.

Constantino
O imperador Constantino (falarei dele em um outro post futuramente), governou o Império Romano entre os anos 306 e 337 d. C., juntou vários deuses que adoravam o sol em um só, o Deus Sol Invicto, nessa junção estavam o deus persa Mitra, o deus egípcio Órus e o deus grego Apolo. O grande festival em homenagem ao sol passou a se chamar Grande Festa Solar ou Festival do Deus Sol Invicto. O professor da cátedra de História Antiga da Universidade de Cantábria na Espanha, Ramón Teja, indica ainda que Constantino fusiona o culto solar ao culto cristão, possivelmente preocupado com sua legitimidade de seu governo.
O culto a esses vários deuses chegou até Roma por conta do imperialismo de seu Império. Por exemplo, o culto a Mitra chegou na Europa no séc. IV a. C. quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio.
Com Constantino os cristãos passaram a não serem mais perseguidos (exceto algumas vertentes do cristianismo, que falarei no post futuro do imperador), em 354 d. C. Papa Libério institui oficialmente o Natal de Jesus, e conforme os seguidores de Cristo espalhavam sua religião pelo mundo, outros costumes foram sendo adicionados à comemoração do nascimento de Jesus.
Um dos símbolos do Yule
O Yule, por exemplo, festa do solstício de inverno dos nórdicos, que comemorava o momento em que Odin liderava a festa de caça e montava Sleipnir, seu cavalo alado de 8 pernas (quantas renas Papai Noel tem mesmo?), teve elementos incorporados às festividades natalinas como o presunto da ceia, a decoração característica de inverno, as cores contrastantes como verde e vermelho, a árvore de natal e um gnomo que distribuía presentes (hum, já vi isso em algum lugar).

"Odin" e seu "Gnomo dos Presentes"
Esse sincretismo religioso é a origem do natal. A relação com o sol também pode ser vista na Bíblia, em textos como: “o Sol da Justiça” (Malaquias 4:2) e “a luz do mundo” (João 8:12).
Jesus pode nem mesmo ter nascido no Natal, por conta dessa época do ano ser o final do inverno, e na Bíblia há a indicação da presença de pastores e rebanhos nos pastos da região. Outro ponto a ser considerado é a data que não é citada na Bíblia. Além disso, o cálculo do ano zero parece estar errado, uma vez que como Jesus nasceu ainda durante o reinado de Herodes I, a data de seu nascimento pode ser antes do ano zero, alguns argumentam que por volta de 6 a. C. ou depois, em torno de 4 a. C., que é o ano da morte de Herodes, o Grande.
E de onde vem os outros símbolos, como Papai Noel, as Botas, Velas e Árvores? Tudo tem uma origem, vamos a elas.
Nicolau de Myra
Na cidade de Myra, na Turquia, no séc. IV, haviam três moças muito pobres que estavam prestes a ir para a prostituição para sobreviverem, porém um homem misterioso em várias noites seguidas, jogou três sacos com ouro para dentro da casa delas, alguns dizem que ele os lançava pela chaminé. Este ouro serviria para dotes de casamento de modo a dar uma vida melhor para essas jovens. Esse homem seria revelado como o bispo Nicolau de Myra que foi posteriormente canonizado pela igreja católica. Daí vem o símbolo do Papai Noel. Na Grã-Bretânia é chamado de Father Christmas (Christmas viria de Christ’s mass, ou “missa de Cristo”), na França seria conhecido como Pére Nöel (de onde veio o nome para o português), na Holanda é conhecido como Sinterklaas (que é de onde deriva o nome Santa Claus, pois foi o nome trazido pelos migrantes holandeses que fundaram a colônia de Nova Amsterdã, atual Nova York).
O Papai Noel foi representado por vários artistas em várias épocas. A roupa característica de frio foi mostrada pelo cartunista Thomas Nast na Revista Harper’s Weeklys. 

Noel por Nast
Antes o bom velhinho era representado por cores verde, roxo e azul. A Coca-Cola não foi a primeira a colocar uma roupa vermelha, ele aparece pela primeira vez de vermelho pelas oras de Louis Prang (1885), sua roupa vermelha só se popularizou em 1931, quando Haddon Sundblom fez uma campanha publicitária para a marca de refrigerante.
Papai Noel com o que viria a ser sua roupa característica por Louis Prang

Uma das várias campanhas publicitárias desenhadas por Haddon Sundblom

Por ter vários elementos pagãos, o Parlamento Inglês de maioria puritana, extinguiu o Natal em 1645, porém com a restauração da monarquia a festa voltou a ser permitida em 1658.
A Árvore de Natal foi acrescida como símbolo da festividade por Martinho Lutero, o pai da Reforma Protestante, no séc. XVI, além da árvore em si passou a decorá-la com velas, uma prática que se popularizou no séc. XVIII. Mas a própria festa de Yule já tinha como um dos símbolos a árvore.
Martinho Lutero e sua família comemorando o Natal
Carlos Magno
A troca de presentes é citada em vários momentos nesse imenso sincretismo. O menino Jesus recebe presentes dos Reis Magos; o gnomo do Yule os distribui; Odin também os distribuía, como vou falar no próximo parágrafo; na Saturnália havia esse hábito; os sacos de ouro de São Nicolau (desculpem-me pela frase) também podem ser entendidos como presentes; e o Imperador francês Charlemagne, nosso conhecido Carlos Magno, que foi coroado no dia de Natal, em 800 d. C., instituiu uma comemoração de 12 dias, bem como a troca de presentes entre todos.
O símbolo da Bota veio da cultura nórdica, onde as crianças enchiam de comida em botas penduradas, às vezes próximas da chaminé, para que Sleipnir, o cavalo alado de Odin, pudesse comer. Como recompensa o pai dos deuses nórdicos dava presentes.

Odin com Sleipnir
O Presépio também é uma obra de um santo da igreja católica. Foi São Francisco de Assis que construiu pela primeira vez um presépio. Era uma representação com pessoas de verdade em uma gruta.
Estas são algumas informações que gostaria de trazer para vocês de forma crítica, buscando fontes históricas que embasem nossa concepção de mundo. O pensamento crítico, típico da ciência é deveras importante para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Espero que tenham gostado.
Enfim, aqui fica a minha mensagem de grande fartura e esperança para todos. Que o verdadeiro homenageado possa iluminar todos vocês, em tudo o que vierem a fazer, o Sol!

Rá, Deus do Sol
Feliz Solstício de Inverno!
Até!
            Críticas, dúvidas e sugestões: lourivaldias@gmail.com

            FONTES:

COHEN, R. 2012. Persiguiendo el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida. Turner. Madrid. 755 pp.

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