quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O que é o cinturão de Kuiper?

Também chamado de Cinturão de Edgeworth-Kuiper, é uma zona do sistema solar que ocorre desde a órbita de Netuno (30 UA) a cerca de 50 UA de distância do Sol. UA é uma Unidade Astronômica que equivale a 149.597.871 quilômetros.
Quem sugeriu essa região foi o astrônomo Gerard Kuiper em 1951, que argumentava que os cometas de curto período (que duram menos de 200 anos) seriam originários de uma região próxima à órbita de Netuno e que essa região seria elíptica no mesmo plano das órbitas dos outros planetas. Porém, o cinturão só foi oficializado em 1992 pelos pesquisadores David Jewitt e Jane Luu utilizando o observatório da Universidade Mauna Kea no Havaí, com a descoberta de vários objetos nessa região.
Desde a descoberta do primeiro objeto dessa região (chamados de KBO – Kuiper Belt Object) já foram catalogados mais de 100 mil corpos nessa zona. Ele é semelhante ao cinturão de asteroides, só que é muito mais largo e massivo.
Os diversos KBO apresentam ampla variação de tamanho, podendo atingir mais de 1000 Km de diâmetro. Existe um em especial, Éris, que tem massa maior que a de Plutão, apesar de um volume relativamente menor. Esses objetos são rochas congeladas contendo metano, amônia e água. A presença dessa água congelada é uma das evidências que corroboram com a hipótese de que a água que existe na Terra foi, na verdade, semeada por corpos celestes que aqui caíram quando da sua formação.
Acredita-se que os objetos eram mais numerosos no passado, porém, por conta das interações com planetas e outros KBO, foram sendo lançados para fora do cinturão em diversas direções, tanto para dentro como para fora do sistema solar.
Os KBO podem ser classificados em i) Clássicos, aqueles com órbitas mais estáveis com baixa excentricidade orbital; ii) Plutinos, com ressonância 3:2 com Netuno; e iii) Espalhados, com órbitas altamente inclinadas e excêntricas.
Foi por conta das diversas descobertas desses KBO que a International Astronomical Union criasse uma nova definição para planetas, fazendo com que em 2006, Plutão deixasse de ser considerado um e passasse a ser apenas um planeta-anão. Plutão, inclusive, é considerado como um objeto do Cinturão de Kuiper.


Essa estrutura não é única no universo, estima-se que 15 a 20% das estrelas possuam enormes estruturas como o cinturão em seus sistemas.
Não se sabe ao certo qual a origem do cinturão, mas por conta do seu formato hipotetiza-se que seja remanescente da nebulosa protossolar.
A sonda espacial New Horizons, lançada em janeiro de 2006 pela NASA, já está no cinturão, em janeiro de 2015 passou por Plutão e em janeiro de 2019 prepara-se para detalhar através de fotos e outros tipos de análises a superfície do KBO apelidado de Ultima Thule, pois irá passar a cerca de 3.000 metros do objeto.
Os pesquisadores visam compreender mais sobre a formação do universo e do nosso sistema solar, bem como entender detalhes do cinturão antes que ele desapareça, pois essa é a tendência. Os KBO estão colidindo entre si e se fragmentando e estima-se que daqui a 100 milhões de anos o cinturão não exista mais.
Vez ou outra novos objetos tem sido catalogados para a região como podemos ver nesse vídeo de divulgação científica do Space Today.


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PARA SABER MAIS:

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Uma imagem e sua idade


Digamos que eu não saiba a sua idade, e mesmo que eu não veja você, consiga saber ao menos se és uma pessoa mais jovem ou mais velha. Mas como saberia? Apenas por conta de sua resposta em relação a uma pergunta sobre uma imagem.
A imagem em questão é intitulada “My wife and my mother-in-law” (algo como “minha esposa e minha sogra”) e desenhada em 1915 pelo cartunista britânico William Ely Hill, veja abaixo. A imagem está em domínio público nos EUA.

My wife and my mother-in-law

Um estudo publicado na Nature: Scientific Reports pelos pesquisadores Michael Nicholls, Owen Churches e Tobias Loetscher da Universidade de Flinders da Austrália com objetivo de avaliar como nossa idade afeta a percepção subconsciente que temos das faces de outras pessoas. A conclusão do estudo? Sim.
O teste foi realizado em um universo amostral de 666 participantes entre homens e mulheres nos Estados Unidos (n=418) e Índia (n=225), além de outros 20 países (n=23) com idades variando entre 18 e 68 anos. Cada participante do estudo ganhou USD $0,30 pelo seu tempo. A cada uma dessas pessoas era mostrada a imagem acima e perguntado o que viam. As perguntas feitas, mais especificamente, eram: 1) Você vê uma pessoa ou um animal? (Possíveis respostas: pessoa/animal/nenhum dos dois); Caso a resposta fosse “pessoa” era feita a seguinte: 2) Qual o sexo da pessoa? (possíveis respostas: masculino/feminino/não sei), daí se a resposta fosse feminino a última pergunta era feita: 3) Qual a idade da mulher em anos?
De acordo com Nicholls “a imagem é perfeita para isso, já que as pessoas enxergam uma mulher jovem ou idosa”.
As pessoas respondiam que o que viam era uma imagem de uma mulher com idade aproximadamente próxima da sua (mais jovem ou mais idosa), de acordo com o gráfico abaixo que mostra a média de idade estimada da imagem (em anos) como uma função da idade do observador e do seu país de residência.


          Nosso cérebro realiza vários processos que afetam nossa percepção de faces e as pessoas que estão em grupos sociais mais próximos dos nossos passam a receber maior atenção, e esses processos acabam afetando as interações sociais entre pessoas que apresentam idades diferentes.
Seria essa a razão por algumas pessoas tratarem de maneira tão discriminatória e com indiferença pessoas mais velhas, até mesmo próximas como seus pais? É um questionamento a se fazer.
Essa não foi a primeira pesquisa feita com a imagem. Esta foi introduzida aos estudos de fisiologia por Boring (1930), após este vários outros artigos foram publicados usando a imagem citada e buscando compreender as ações do nosso cérebro sobre essa percepção visual.

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FONTES:
BORING, E. G. 1930. A new ambiguous figure. Am. J. Psychol. 42, 444-445.
NICHOLLS, M. E. R.; CHURCHES, O. & LOETSCHER, T. 2018. Perception of an ambiguous figure is affected by own-age social biases. Scientific Reports 8.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Japoneses pousam em asteroide


Parece cena de filme. A missão japonesa Hayabusa2 (que significa Falcão Peregrino) foi a primeira a pousar sondas robôs móveis na superfície de um asteroide. O evento ocorreu no dia 22 de setembro de 2018 quando, pelo Twitter, a JAXA (Agência de Exploração Aeroespacial do Japão) divulgou que os veículos não tripulados MINERVA-II 1A E 1B pousaram no Ryugu, asteroide que possui 1 Km de largura e se encontra a cerca de 280 milhões de quilômetros da Terra.
As sondas partiram da nave mãe Hayabusa2. Em um primeiro momento os pesquisadores perderam contato com os veículos, isso se deu provavelmente por estarem do outro lado da rocha espacial. Porém, recentemente os robôs enviaram as primeiras imagens da superfície do asteroide.
O mais interessante nessa missão é que os veículos estão se movendo sobre a superfície do Ryugu, esse é o fato que dá à missão ineditismo, já que em 2005 a missão Hayabusa pousou uma sonda em uma asteroide menor, o Itokawa, porém, diferentemente da missão atual, naquela a sonda não se moveu.
Ano que vem a nave-mãe deixará o asteroide, porém, antes de fazê-lo, lançará mais duas sondas, no final de outubro encostará na superfície do asteroide para coletar amostras e trazer para a Terra.
Outra novidade foi anunciada também pelo Twitter, uma terceira sonda, a MASCOT, aterrissou com sucesso no asteroide no dia 03 de outubro de 2018 e já enviou foto. Sabe o que ainda é mais legal? O MASCOT tem conta própria no Twitter: https://twitter.com/MASCOT2018

Foto enviada pela MASCOT

E uma de suas mensagens foi: "Uau! Ryugu é tão escuro que eu tive dificuldades em me orientar. Eu tive de usar meu braço mecânico para me realocar para que pudesse continuar a coletar dados científicos. Muito melhor agora!"

Imagem ilustrativa da sonda

Agora é aguardar e torcer para que os cientistas desvendem mais aspectos do princípio do universo.
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FONTE:

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O “Plobema” de fala do Cebolinha


Um dos meus filhos me perguntou qual o “problema” da fala do Cebolinha, personagem clássico das histórias em quadrinhos do Brasil, criado por Maurício de Sousa e, para quem não sabe, é aquele personagem que troca o R pelo L.
A princípio pensei que seria uma forma de Dislexia, mas fui pesquisar e encontrei a resposta.
O Cebolinha apresenta Dislalia, uma síndrome ou distúrbio de linguagem bastante comum entre as crianças e muito fácil de se identificar.
A Dislalia é caracterizada pela dificuldade de articular determinados fonemas. Pode ocorrer omissão, troca ou mesmo acréscimo dos mesmos.
O que poucas pessoas sabem é que se não tratado o problema pode chegar à idade adulta e então ser bastante difícil de reverter. Muitos acham “bonitinho” como a criança fala, mas deve ser entendido como um problema que necessita de acompanhamento e tratamento.
Até os 3 anos de idade o sintoma é normal, é um período de desenvolvimento da fala, mas deve-se ter atenção após os 5 anos, caso a dislalia permaneça deve se procurar um fonoaudiólogo.
Várias são as causas: desde problemas neurológicos até físicos, psicológicos ou auditivos e o tratamento pode ser feito através de terapia ou mesmo cirurgia.
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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A Biologia Evolutiva


A Biologia Evolutiva tem grande abrangência. Ela pode ser trabalhada em várias áreas, na genética molecular, morfologia, embriologia, bioquímica, etologia, paleontologia, entre outras.
Ainda assim, a Evolução por Seleção Natural pode ser testada em todas as áreas, além disso surge e ainda detêm a condição de unificar a biologia.
Como disse Theodosius Dobzhansky, ilustre geneticista, em sua mais famosa frase:

“Nada na biologia faz sentido, exceto à luz da evolução”

E o que seria a evolução?
Evolução, nada mais é que mudança. Sim. Mudança pura e simplesmente.
Mudança na forma e no comportamento ao longo das gerações. Obviamente que essa mudança afeta as sequências de DNA e por isso a herança é possível.
Ao contrário do que muitos possam pensam, nem todos os tipos de mudanças biológicas estão inclusas nessa definição.
A modificação de um indivíduo ao longo do seu desenvolvimento, como ocorre com as borboletas durante sua metamorfose, não é evolução.
A modificação das espécies em um ecossistema ao longo de um período de, por exemplo, sucessão ecológica, não é evolução.
Em ambos os casos há mudança na forma daquela unidade biológica considerada, porém essa mudança não está relacionada com reprodução diferencial.
Harrison, um pesquisador, em 2001, conceituou a evolução de modo mais específico quando diz que esta é “mudança ao longo do tempo por meio de descendência com modificação”.
Darwin, em 1859, empregou a expressão “descendência com modificação”.
Quando várias gerações transcorrem e uma determinada característica, que é expressa no material genético daquela espécie, muda sua frequência ao longo do tempo, aí sim estamos diante de uma mudança biológica que podemos denominar de evolução.
Mudanças políticas, econômicas, históricas, tecnológicas, teóricas etc não são mudanças evolutivas. Em várias áreas das ciências humanas é possível ouvir o termo evolução para tais mudanças, mas não tem qualquer relação com o termo.
A evolução biológica depende do ambiente e de variantes genéticas, quase aleatórias, que vão ser selecionadas justamente pelo ambiente. Além disso, evolução não é previsível e não tem propósito, como já falei nesse post aqui.
Em um próximo post falarei sobre adaptação.
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