sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Tales de Mileto


Hoje a discussão ficará a cargo da vida, obra e colaborações do filósofo, matemático, político, engenheiro, administrador e astrônomo da Grécia Antiga, Tales de Mileto.
Tales nasceu em Mileto, região da Jônia, Ásia menor, na Costa da atual Turquia, por volta de 623 ou 624 a. C. Existe pouca ou quase nenhuma informações sobre a sua vida. Alguns autores afirmam que ele foi casado e teve um filho, Cybisthus, enquanto para outros ele nunca fora casado.
Apesar de seus textos não terem sobrevivido até hoje passamos a conhecer sua obra através das referências deixadas por Aristóteles e Diógenes Laércio, o biógrafo dos antigos filósofos. É um dos grandes filósofos pré-socráticos, Aristóteles chega a referenciá-lo como o primeiro filósofo da humanidade.
Aprofundou e dispersou conhecimento para o Egito e Babilônia, por onde foi bastante admirado. Dizem que uma vez no Egito foi chamado para descobrir a altura da pirâmide de Quéops, desse evento viria o surgimento do Teorema de Tales.



Detinha om conhecimento de geometria e astronomia, de modo que chegou a prever um eclipse total do sol em 585 a. C. Também chegou a conjecturar algumas conclusões em geologia, dizendo que as massas de terra flutuam sobre a água, são as ondulações nesse líquido que geram os terremotos.
Os gregos acreditavam que os fenômenos naturais eram regidos pelos deuses. Foi Hesíodo, poeta grego, que há cerca de 700 anos a. C., escreveu “A Teogonia”, com a narrativa de como os deuses criaram o universo.
Tales tem grande contribuição para o pensamento crítico e científico ao afirmar que uma boa colheita não advém de suplicas aos deuses, mas sim de boas condições do clima. Chegou a afirmar que as estrelas não eram deuses, mas bolas de fogo. Seu pensamento era bastante prático.
Porém, apesar desse pensamento ele não era completamente agnóstico, algumas de suas frases indicam isso: “O ser mais antigo é Deus, porque não foi gerado”; “Todas as coisas estão cheias de deuses” e “A coisa mais bela é o mundo, porque é obra divina”. Mas, ainda tenho dúvidas sobre a veracidade dessas frases, visto suas argumentações.
Chegou à conclusão que tudo no universo vem e é composto de água, pois a matéria básica do cosmo deveria ser algo que estivesse em tudo, que fosse essencial para a manutenção da vida e capaz de mover e se mudar. A água, para Tales, possuía essas características.
Foi o primeiro pensador a buscar explicações racionais e naturalistas para os fenômenos ao invés de basear tais explicações sobre as ações de vários deuses. As bases filosóficas e científicas da cultura ocidental surgiram e vieram a se afirmar até hoje através da “Escola Jônica”, da “Escola de Mileto” (Milésia)  e de seus discípulos que ali iriam se formar, posteriormente, como Anaximandro e Anaxímenes (este pode ter sido o tutor de Pitágoras).
Espero que tenham gostado.
Dúvidas, críticas e sugestões: lourivaldias@gmail.com
Até!

FONTES:
O Livro da Filosofia. 2011. Globo Livros.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A história (não contada) do Natal


A origem do Natal é recheada de elementos cristãos e pagãos (para os cristãos, obviamente).
Foi somente no século IV em que a data de 25 de dezembro foi estabelecida como o nascimento de Jesus. De onde vem essa data? Foi por conta do historiador cristão Sextus Julius Africanus que a definiu em 221 d. C. Originalmente esse era o dia da comemoração do nascimento do deus persa Mitra. Passou o tempo, no século IV d. C. Roma passa a ter o cristianismo como religião oficial e aceitou a data indicada por Africanus. O Festival do Sol Invicto trocou de homenageado, agora seria o filho do deus único.
Deus Sol Invicto
Alguns foram contra essa comemoração. Em 245 d. C. o teólogo Orígenes repudiou o festejar do nascimento de Jesus “como se fosse um Faraó”, na época não era costume comemorar o nascimento das pessoas.
Mas como tudo começou? Há cerca de 7.000 anos a. C. o solstício de inverno no Hesmisfério Norte, a noite mais longa do ano, era comemorado, pois após esse momento os dias começariam a ficar mais longos, o sol tinha a vitória sobre a escuridão. Vamos todos comemorar!
Segundo Richard Cohen, historiador e autor do livro Persiguiendo el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida (Perseguindo o sol: a história épica do astro que nos dá a vida), “praticamente todas as culturas têm uma forma de celebrar esse momento”.
O Solstício de Inverno era celebrado: 
a) na Grécia, em homenagem ao deus Dionísio; 
Deus Dionísio
b) no Egito a Osíris; 
Deus Osíris
c) na China o culto era em relação ao Yin-Yang; 
O Yin-Yang

d) e os povos antigos da Grã-Bretânia comemoravam a época em torno de Stonehenge, que fora construído para demarcar o percurso que o sol fazia ao longo do ano.
Stonehenge


Na Roma antiga era comemorado nessa época do ano a Saturnália, em homenagem ao deus Saturno da agricultura, haviam trocas de papéis sociais e de presentes, algo como o carnaval e o natal moderno. Uma grande festança acontecia comemorando a época do ano que significava fartura.

Saturnália, um evento família.

Constantino
O imperador Constantino (falarei dele em um outro post futuramente), governou o Império Romano entre os anos 306 e 337 d. C., juntou vários deuses que adoravam o sol em um só, o Deus Sol Invicto, nessa junção estavam o deus persa Mitra, o deus egípcio Órus e o deus grego Apolo. O grande festival em homenagem ao sol passou a se chamar Grande Festa Solar ou Festival do Deus Sol Invicto. O professor da cátedra de História Antiga da Universidade de Cantábria na Espanha, Ramón Teja, indica ainda que Constantino fusiona o culto solar ao culto cristão, possivelmente preocupado com sua legitimidade de seu governo.
O culto a esses vários deuses chegou até Roma por conta do imperialismo de seu Império. Por exemplo, o culto a Mitra chegou na Europa no séc. IV a. C. quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio.
Com Constantino os cristãos passaram a não serem mais perseguidos (exceto algumas vertentes do cristianismo, que falarei no post futuro do imperador), em 354 d. C. Papa Libério institui oficialmente o Natal de Jesus, e conforme os seguidores de Cristo espalhavam sua religião pelo mundo, outros costumes foram sendo adicionados à comemoração do nascimento de Jesus.
Um dos símbolos do Yule
O Yule, por exemplo, festa do solstício de inverno dos nórdicos, que comemorava o momento em que Odin liderava a festa de caça e montava Sleipnir, seu cavalo alado de 8 pernas (quantas renas Papai Noel tem mesmo?), teve elementos incorporados às festividades natalinas como o presunto da ceia, a decoração característica de inverno, as cores contrastantes como verde e vermelho, a árvore de natal e um gnomo que distribuía presentes (hum, já vi isso em algum lugar).

"Odin" e seu "Gnomo dos Presentes"
Esse sincretismo religioso é a origem do natal. A relação com o sol também pode ser vista na Bíblia, em textos como: “o Sol da Justiça” (Malaquias 4:2) e “a luz do mundo” (João 8:12).
Jesus pode nem mesmo ter nascido no Natal, por conta dessa época do ano ser o final do inverno, e na Bíblia há a indicação da presença de pastores e rebanhos nos pastos da região. Outro ponto a ser considerado é a data que não é citada na Bíblia. Além disso, o cálculo do ano zero parece estar errado, uma vez que como Jesus nasceu ainda durante o reinado de Herodes I, a data de seu nascimento pode ser antes do ano zero, alguns argumentam que por volta de 6 a. C. ou depois, em torno de 4 a. C., que é o ano da morte de Herodes, o Grande.
E de onde vem os outros símbolos, como Papai Noel, as Botas, Velas e Árvores? Tudo tem uma origem, vamos a elas.
Nicolau de Myra
Na cidade de Myra, na Turquia, no séc. IV, haviam três moças muito pobres que estavam prestes a ir para a prostituição para sobreviverem, porém um homem misterioso em várias noites seguidas, jogou três sacos com ouro para dentro da casa delas, alguns dizem que ele os lançava pela chaminé. Este ouro serviria para dotes de casamento de modo a dar uma vida melhor para essas jovens. Esse homem seria revelado como o bispo Nicolau de Myra que foi posteriormente canonizado pela igreja católica. Daí vem o símbolo do Papai Noel. Na Grã-Bretânia é chamado de Father Christmas (Christmas viria de Christ’s mass, ou “missa de Cristo”), na França seria conhecido como Pére Nöel (de onde veio o nome para o português), na Holanda é conhecido como Sinterklaas (que é de onde deriva o nome Santa Claus, pois foi o nome trazido pelos migrantes holandeses que fundaram a colônia de Nova Amsterdã, atual Nova York).
O Papai Noel foi representado por vários artistas em várias épocas. A roupa característica de frio foi mostrada pelo cartunista Thomas Nast na Revista Harper’s Weeklys. 

Noel por Nast
Antes o bom velhinho era representado por cores verde, roxo e azul. A Coca-Cola não foi a primeira a colocar uma roupa vermelha, ele aparece pela primeira vez de vermelho pelas oras de Louis Prang (1885), sua roupa vermelha só se popularizou em 1931, quando Haddon Sundblom fez uma campanha publicitária para a marca de refrigerante.
Papai Noel com o que viria a ser sua roupa característica por Louis Prang

Uma das várias campanhas publicitárias desenhadas por Haddon Sundblom

Por ter vários elementos pagãos, o Parlamento Inglês de maioria puritana, extinguiu o Natal em 1645, porém com a restauração da monarquia a festa voltou a ser permitida em 1658.
A Árvore de Natal foi acrescida como símbolo da festividade por Martinho Lutero, o pai da Reforma Protestante, no séc. XVI, além da árvore em si passou a decorá-la com velas, uma prática que se popularizou no séc. XVIII. Mas a própria festa de Yule já tinha como um dos símbolos a árvore.
Martinho Lutero e sua família comemorando o Natal
Carlos Magno
A troca de presentes é citada em vários momentos nesse imenso sincretismo. O menino Jesus recebe presentes dos Reis Magos; o gnomo do Yule os distribui; Odin também os distribuía, como vou falar no próximo parágrafo; na Saturnália havia esse hábito; os sacos de ouro de São Nicolau (desculpem-me pela frase) também podem ser entendidos como presentes; e o Imperador francês Charlemagne, nosso conhecido Carlos Magno, que foi coroado no dia de Natal, em 800 d. C., instituiu uma comemoração de 12 dias, bem como a troca de presentes entre todos.
O símbolo da Bota veio da cultura nórdica, onde as crianças enchiam de comida em botas penduradas, às vezes próximas da chaminé, para que Sleipnir, o cavalo alado de Odin, pudesse comer. Como recompensa o pai dos deuses nórdicos dava presentes.

Odin com Sleipnir
O Presépio também é uma obra de um santo da igreja católica. Foi São Francisco de Assis que construiu pela primeira vez um presépio. Era uma representação com pessoas de verdade em uma gruta.
Estas são algumas informações que gostaria de trazer para vocês de forma crítica, buscando fontes históricas que embasem nossa concepção de mundo. O pensamento crítico, típico da ciência é deveras importante para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Espero que tenham gostado.
Enfim, aqui fica a minha mensagem de grande fartura e esperança para todos. Que o verdadeiro homenageado possa iluminar todos vocês, em tudo o que vierem a fazer, o Sol!

Rá, Deus do Sol
Feliz Solstício de Inverno!
Até!
            Críticas, dúvidas e sugestões: lourivaldias@gmail.com

            FONTES:

COHEN, R. 2012. Persiguiendo el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida. Turner. Madrid. 755 pp.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A separação evolutiva de Bacteria e Archaea


Em 1977, Carl Woese descreveu as bactérias Archaea, divindo o então Reino Monera (organismos unicelulares sem carioteca- membrana que circunda o núcleo) em dois grupos: Bacteria (ou Eubacteria) e Archaea. Nessa mesma época Woese desenvolveu o que ele chamou de Domínios, um nível de classificação de hierarquia superior aos então já conhecidos Reinos. Há, desse modo, três reinos: Bacteria, Archaea e Eukaryota (neste todos os organismos eucariotos – com membrana nuclear – estariam: Protista, Fungi, Platae e Metazoa/Animalia).
A grande questão que intriga toda a comunidade científica é quando Bacteria e Archaea se separaram filogeneticamente.
O que torna Bacteria e Archaea diferentes a ponto de serem alocadas em taxa distintos é a composição de suas membranas plasmáticas, estas apresentam tipos de lipídios diferentes. Uma hipótese clássica que explicava a separação desses dois grupos era que, no passado, há bilhões de anos atrás, havia um organismo primitivo com uma membrana contendo ambos tipos de lipídios, esta se tornaria instável e provavelmente permeável, de modo que aquelas formas que, por conta da variabilidade, tivessem apenas um tipo de lipídio nessa membrana plasmática teriam uma estrutura mais estável.


Mas não foi isso que pesquisadores, estudando E. coli, descobriram e publicaram em abril de 2018 na Proceedings of the National Academy of Sciences USA.
No trabalho eles enxertaram genes para lipídios de Archaea em bactérias E. coli produzindo uma cepa com uma membrana celular que continha até 30% de lipídios arqueanos e 70% de lipídios bacterianos. Essas células mistas, porém, ao contrário do que antiga hipótese afirmava, não apresentaram instabilidade em sua membrana.
Isso indicou que, provavelmente, “outras causas para a separação” ocorreram no passado, como argumentou Eugene Koonin, editor do artigo.
Para Arnold Driessen, um dos colaboradores do trabalho, não houve um ancestral comum para esses dois grupos, o que existia seria “uma mistura de múltiplas formas de vida” ou esse “ancestral” não teria nem mesmo membrana, mas seria “apenas uma sopa protegida por partículas de argila”.
Mais estudos serão necessários para desvendar esse mistério dos primórdios da vida na Terra.
Críticas, dúvidas e sugestões: lourivaldias@gmail.com
Até!

FONTE:
            A. Caforio; M; F. Siliakus; M. Exterkate; S. Jain; V. R. Jumde; R. L. H. Andringa; S. W. M. Kengen; A. J. Minnaard; A. J. M. Driessen & J. van der Oost. 2018. Converting Escherichia coli into an archaebacterium with a hybrid heterochiral membrane. Proceedings of the National Academy of Sciences USA. 1-6.
            Scientific American Brasil nº 187 (Setembro/2018) http://www.lojanastari.com.br/produto/155945/o-setimo-sentido-setembro-2018-ed-no-187-scientific-american-brasil

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Imunoterapia contra o câncer


E o Prêmio Nobel de 2018 de Medicina foram para dois pesquisadores que revolucionaram o modo de combate ao câncer ao utilizar a própria maquinaria de defesa do corpo humano contra as células cancerígenas.
O americano James P. Allison, da Universidade do Texas, estudou a proteína CTLA-4 e o japonês Tasuko Honjo, da Universidade de Kyoto, outra proteína, a PD-1, que são produzidas pelo nosso organismo e regulam a ação dos linfócitos T, os quais são as principais células imunológicas que atuam contra invasores.
A partir das descobertas dos pesquisadores já foram desenvolvidos três remédios contra o câncer (essa pesquisa premiada não é recente, o primeiro medicamento liberado data de 2011): o Ipilimumabe (Yervoy), o Nivolumabe (Opdivo) e Pembrolizumabe (Keytruda).
O tratamento consiste em impedir que as moléculas liberadas pelas células cancerígenas se liguem aos linfócitos T, aquelas moléculas se ligam exatamente nas duas proteínas estudadas pelos pesquisadores, CTLA-4 e a PD-1, as quais funcionariam como um freio para a ação dos linfócitos. Assim, se as duas proteínas fossem desligadas (através das drogas produzidas para esse fim) as células de defesa voltariam a reconhecer e destruir o tumor.
Infelizmente os imunoterápicos não funcionam para todos os tipos de pacientes, depende do tipo de tumor (apesar de terem uma boa ação sobre vários tipos de câncer), em algumas pessoas o uso dos medicamentos por alguns meses já apresenta uma melhora significativa no quadro, enquanto em outras pessoas, que fazem uso a anos, não chegam a fazer efeito.
Estimativas indicam que cerca de 100.000 pessoas já teriam se beneficiado da imunoterapia no mundo todo. Infelizmente no Brasil o SUS ainda não oferece o tratamento e os planos de saúde que o oferecem cobram cerca de R$50.000,00 por mês para a manutenção do tratamento!
Ganha-se mais um procedimento para combater o câncer (os outros procedimentos estão a cirurgia, radioterapia e a quimioterapia), mas por estar muito incipiente demorará para estar disponível, de modo mais acessível, para a população em geral. Esperemos que esse dia chegue logo.
Críticas, dúvidas e sugestões: lourivaldias@gmail.com
Até!

FONTES: