Por
Luciane Pimentel Corrêa
Zygmunt
Bauman, sociólogo e filósofo polonês, principal teórico da pós-modernidade, em
mais um de seus mais de 60 livros publicados (só no Brasil, mais de 30), lançou
em 1998 seu título “Globalização: As Consequências Humanas”, publicado pela
editora Zahar no Brasil.
Conhecido
por análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre a modernidade e o
holocausto, bem como pela abordagem da modernidade líquida, conceito amplamente
discutido por ele em suas publicações e que vez ou outra vem à tona em
discussões sobre as relações humanas.
Neste
livro busca descrever a história da “globalização”, seu início e as suas
consequências, dispersando a banalização (ou o “anestésico da familiaridade”
para citar Richard Dawkins) sobre o termo. É tão comum falar em globalização
que parece algo comum, algo que sempre esteve presente na sociedade moderna, de
modo que seria difícil, hoje, pensar em um mundo não globalizado.
O
livro está estruturado em cinco capítulos: “Tempo e Classe”; “Guerras
espaciais: informe de carreira”; “Depois da Nação-Estado, o quê?”; “Turistas e
vagabundos” e “Lei global, ordens locais”.
Bauman inicia o livro falando sobre
que seriam os principais beneficiados da globalização, que seriam as grandes
corporações. Existe uma luta de classes entre aqueles que investem capital
estrangeiro e os empregados locais. Apesar dos empregados estarem diariamente
vivendo a realidade da empresa, são os investidores que tomam todas as decisões
visando apenas o lucro, não para os empregados, os quais normalmente não tem
participação nos lucros da empresa, mas sim para si próprios.
Outro
ponto abordado pelo pensador em relação à globalização é a instantaneidade de
transporte da informação. Essa comunicação excessiva e barata, inunda e sufoca
a memória ao invés de consolidá-la. Desse modo as elites investidoras se mantêm
conectadas virtualmente, sem se aproximar das comunidades onde suas empresas
estão inseridas, produzindo uma desestruturação desses locais. Assim, existem
toda uma discussão sobre o espaço social moderno-líquido, uma vez que antes os
inimigos das comunidades vinham de fora (Vikings, piratas etc), porém hoje os
inimigos compartilham o mesmo local. Como isso é possível? Por conta da
globalização.
Outro
sintoma da pós-modernidade, atrelado com a globalização, é o esgotamento do
sistema de governo vigente em que cada Estado-Nação tem um líder, um
governante. Esse sistema estaria desgastado, com uma grande possibilidade de
extinção, acarretando uma desordem mundial. Atrelado a isso, a falta de controle
central ou a descentralização desse controle gera uma quebra entre economia e
Estado. Assim, grandes empresas (que são extraterritoriais) podem terceirizar
sua mão-de-obra em outros países em que
esta é mais barata, assim têm mais lucro.
Situações
efêmeras, como o movimento na pós-modernidade, também seriam criadas pela
globalização, como é tratada no capítulo “Turistas e Vagabundos”. Estamos
sempre nos movendo, mesmo quando não viajamos, esse movimento seria
caracterizado pelo consumo. Assim, liberdade seria ir para onde quiser e
comprar o que quiser, porém enquanto que os “Turistas” são caracterizados pela
liberdade de movimento e consumo, os “Vagabundos” não possuem tal liberdade e
este grupo social é composto pela maioria da população mundial.
Finalizando
a obra, Bauman afirma, baseado também nas ideias de ourdieu e Tietmeyer, que a
globalização transformou as leis. Gasta-se mais com isolamento do que com
integração (educação) e as leis locais são altamente repressivas com a maioria
da população (classe média baixa), apesar de “protegerem” relativamente a
classe média. Além disso, as leis globais, são estritamente econômicas,
flexibilizam relações de trabalho, criam relações de confiança entre
investidores, entre outras ações que levam a uma descentralização do poder.
Assim,
a globalização é um processo que tem levado à grandes mudanças na
pós-modernidade, seja na luta entre classes, seja no modo de fazer política que
caminha para um esgotamento. Além de colocar o lucro como a locomotiva que
impulsiona o mundo e as relações da sociedade como um todo.
Referência:
BAUMAN,
Z. 1999. Globalização: As Consequências
Humanas. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar.