Quando falamos em filogenia devemos
começar a entender alguns conceitos básicos. O primeiro é o de que a vida
surgiu uma única vez e que a partir desse organismo todos os outros evoluíram.
Essa é a ideia básica de Darwin na qual todos os indivíduos descendem de um
único ancestral comum.
O outro conceito base é o de homologia.
Para comparar homologia devemos comparar órgãos/estruturas de duas espécies ou
de dois organismos distintos. Caso essas estruturas tenham: 1) mesma posição;
2) mesma forma/estrutura; e 3) mesma origem ontogenética/embriológica, então
estamos diante de órgãos homólogos!
Mas o que a homologia significa? Ela
indica que se duas espécies ou dois organismos apresentam aquele órgão (que é
homólogo) muito provavelmente o seu ancestral comum também o possuía.
Podemos usar a metáfora do idioma ou do
sotaque. “Dois primos tem o mesmo
sotaque, muito provavelmente o seu ancestral comum também o possuía” (claro
que aqui nem sempre é assim, outros fatores sociais estariam relacionados, por
isso é apenas uma metáfora). Assim, se duas espécies de tucano tem um bico
robusto e longo, muito provavelmente a espécie ancestral e comum destas duas
também apresentaria tal bico.
Para saber o que a homologia, do ponto de
vista evolutivo, nos indica voltaremos mais à frente. Vamos agora ver alguns
outros conceitos importantes:
Uma determinada estrutura pode mudar no
decorrer do tempo, além dessa estrutura mudar ela pode ser compartilhada com
outras espécies. Para continuar temos que saber os seguintes termos aplicados à
sistemática filogenética:
Plesiomorfia: É um estado de caráter
ancestral.
Apomorfia: É um estado de caráter derivado
(novidade evolutiva).
Simplesiomorfia: É um estado de caráter
ancestral compartilhado.
Sinapomorfia: É um estado de caráter
derivado compartilhado.
De uma forma bem simplória podemos
representar a mudança dos estados de caráter ao longo de uma determinada
história evolutiva do seguinte modo: Estado de caráter ancestral (Plesiomorfia)
-> Estado de caráter derivado (Apomorfia).
Por exemplo, a ausência de vértebras
precede a presença de vértebras, de modo que podemos dizer que ausência de
vértebras em um inseto é um estado de caráter ancestral (plesiomorfia) e que a
presença de vértebras em um peixe é um estado de caráter derivado (apomorfia).
É claro que temos que ter em mente que tais estados de caráter não ocorrem de
modo isolado na natureza, eles são compartilhados por vários organismos. Por
exemplo, as vértebras são compartilhadas com todos os vertebrados (peixes,
anfíbios, répteis e mamíferos – Por que não citei as Aves? Leia aqui nesse post).
Agora vamos aos tipos de agrupamentos
filogenéticos para então seguir para o modo como são formados.
Grupos
monofiléticos (ou grupos naturais) são
aqueles que reúnem ancestral e todos os seus descendentes.
Grupos parafiléticos e polifiléticos são
aqueles que não reúnem todos os descendentes. Eles são diferenciados do
seguinte modo:
Grupos
parafiléticos são aqueles que a partir
de um grupo monofilético maior, deixam de considerar um grupo monofilético
menor.
Grupos
polifiléticos são aqueles que a partir
de um grupo monofilético maior, deixam de considerar dois ou mais grupos
monofiléticos menores.
Agora vamos às formações dos tipos de
agrupamentos filogenéticos.
Grupos monofiléticos são sempre formados
por sinapomorfias. Estes são caracterizados por novidades evolutivas, homólogas
e que são compartilhadas por todos os descendentes daquele grupo. Assim, há a
formação desses grupos que são os grupos naturais. É o único grupo considerado
como correto do ponto de vista da sistemática filogenética.
Como exemplos de grupos monofiléticos
temos (com as sinapomorfias entre parênteses): Vertebrados (presença de
vértebras); Gnathostomata (presença de maxilas); Amniota (presença de membranas
extraembrionárias, dentre elas o âmnio), entre outros.
Grupos parafiléticos são aqueles formados
por simplesiomorfias. Aqui é muito mais fácil entender utilizando exemplos.
Tomemos como modelo o táxon dos animais (Metazoa), neste grupo existem os
Invertebrados e os Vertebrados, já vimos anteriormente que os Vertebrados são
grupos monofiléticos e quanto aos Invertebrados?
Os invertebrados são caracterizados pela
ausência de vértebras, este estado de caráter precede a presença de vértebras,
então é uma plesiomorfia. Todos os invertebrados compartilham essa ausência de
vértebras, assim sendo uma simplesiomorfia. Caso consideremos os invertebrados
como um grupo monofilético maior, deixa-se de considerar os vertebrados que é
um grupo monofilético menor, de modo que os Invertebrados compõem um
agrupamento parafilético. Igual ao agrupamento dos répteis que falei nesse post.
Grupos polifiléticos, por outro lado, são
formados a partir de homoplasias, estas são estados de caráter que tem
surgimento independente em vários ramos filogenéticos. Elas podem ser
paralelismo, convergência ou reversão. Quando consideramos homoplasias para
unir táxons em um grupo, temos a formação de um agrupamento com várias origens
evolutivas (o próprio significado do termo “polifilético”). Por exemplo, vamos
considerar a união dos táxons insetos e aves por apresentarem asas.
Asas são estados de caráter que têm
diversas origens. Porém, insetos e aves estão em clados filogenéticos muito
distantes, veja no cladograma abaixo. Quando vamos atrás do ancestral comum
deles e consideramos o grupo monofilético formado a partir deste ancestral,
deixamos de considerar vários pequenos grupos monofiléticos. Assim, esse grupo
hipotético das aves e insetos é polifilético.
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Cladograma dos Tetrapoda |
Espero que tenham compreendido o que
queria compartilhar com vocês.
Críticas e sugestões:
lourivaldias@gmail.com