Quem
é meu aluno sabe que em todo início de curso de Zoologia de Vertebrados eu
falo: “Répteis não existem”. Essa frase é instigante, ou ao menos procuro que
seja e que os alunos sejam críticos o suficiente para avaliá-la do ponto de
vista da sistemática filogenética.
Mas
de onde vem essa frase?
Como
já falei em um post anterior um grupo natural ou monofilético é aquele que
reúne seu ancestral e todos os descendentes. Certo, quanto a isso não existe
mais dúvida, mas o que isso tem a ver com os répteis.
O
termo “Répteis” como conhecemos hoje é utilizado para agrupar os seguintes
animais: tartarugas, lagartos, serpentes e crocodilos [ainda existe o grupo dos
Tuatara, um tipo de réptil com apenas duas espécies e com distribuição restrita
à Nova Zelândia, mas normalmente não é citado no agrupamento reptiliano]. Todos
esses indivíduos são agrupados por apresentar, de maneira bem simplória, “pele
seca com escamas”.
Agora
analisemos o seguinte cladograma do agrupamento dos répteis retirado do A Vida
dos Vertebrados (Pough et al., 2008):
O
que é possível perceber? Que existe um grupo intruso!!
As
Aves aparecem como um ramo mais derivado dentro dos répteis.
Assim,
quando consideramos o conceito de grupo monofilético o mesmo não se aplica para
o cladograma acima.
“Répteis”
como conhecemos, ou pelo menos o que se encontra no imaginário popular, é na
verdade um grupo parafilético, ou seja, não reúne todos os descendentes,
deixando de fora um agrupamento monofilético menor.
O
que é difícil de esclarecer para a maioria das pessoas é a questão de Aves
serem répteis, mas a taxonomia clássica tem sua parcela de culpa. Considerando
a taxonomia lineana temos que os vertebrados são divididos em cinco classes:
peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, assim temos que répteis e aves são
grupos distintos e não que um (aves) está contido no outro (répteis).
Isso
já foi debatido há muito tempo atrás. O próprio Thomas Huxley [o “Buldogue” de
Darwin] já indicava que aves e répteis pertenciam à mesma classe: Sauropsida e
que as Aves seriam “répteis glorificados”. Essa ideia se perdeu no decurso da
história científica, mas já é discutida novamente, principalmente por conta do
avanço da sistemática filogenética e da biologia molecular.
Então,
lembrem-se Aves são Répteis!
Dicas,
sugestões e críticas: lourivaldias@gmail.com
Até!
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